Juazeiro do Norte-CE: Vereador atira documentos dentro de caixa d água para despistar os `federais´

Agentes da Polícia Federal e membros da Controladoria Geral da União (CGU) encontraram mais peças que comprovam o desvio de recursos públicos federais em processos de licitações na região do Cariri. A informação foi dada na tarde desta quinta-feira em entrevista concedida pelo Delegado da PF, Alan Robson, e Elíbio Estrela da CGU na Delegacia da PF de Juazeiro do Norte. A operação Certame foi desencadeada ontem pela manhã junto as prefeituras de Ipaumirim e Aurora.

Foram "visitados" ainda domicílios, empresas que atuavam como "laranjas" e escritórios de contabilidade nos municípios de Milagres, Juazeiro do Norte, Barbalha, Abaiara, Fortaleza e Itapajé. Na residência do vereador de Aurora, Francisco Henrique Ricardo de Macedo (PMDB), o Chico Henrique, a polícia encontrou farta documentação molhada. É que, segundo o delegado Alan Robson, ele tentou esconder documentos atirando-os dentro de uma caixa d água.



As provas ficaram frias apenas porque foram molhadas, mas são quentes. A papelada recolhida nestas cidades foi tanta que deixou um dos quartos da sede da Polícia Federal repleto de documentos. Segundo a PF, o vereador seria o cabeça de um grupo que comandava fraudes em licitações nos municípios de Ipaumirim e Aurora alvos dessa investigação no período de 2005 a 2008. Outras sete pessoas envolvidas vão ser ouvidas, mas a polícia e a controladoria não descartam a possibilidade de novas prefeituras do Cariri apareceram na relação o que está sendo investigado.

Empresas que não são laranjas e receberam os "federais", são apontadas como responsáveis por atuar em licitações nessas duas cidades apenas para dar um caráter de lisura aos processos licitatórios. No caso de Itapajé, por exemplo, foi um escritório de contabilidade pertencente a um contador que trabalhava para a Prefeitura de Ipaumirim. Ali, a operação recolheu o material que interessava. "Em todos esses lugares, conseguimos mais e novas provas para robustecer as investigações", confessou Alan.



Quanto a residência do vereador de Aurora, o delegado acrescentou ter encontrados documentos que comprovam crimes de desvios de verbas públicas e, mais que isso, crimes federais como a compra de votos. Ele foi o campeão de votos no último pleito com 1.362 sufrágios para vereador. O modo da operação chefiada por Chico Henrique era o mesmo a partir da sua influência nestes dois municípios conseguindo empresas laranjas.

Todavia o delegado aponta erros grosseiros nos certames envolvendo oito empresas dando a idéia que uma mesma pessoa elaborava todos os documentos para concorrer a licitações de obras. Algumas destas empresas, apenas de fachada na participação de processos licitatórios já com vencedor certo antes de começar. Segundo a polícia, foram encontrados papeis e carimbos de empresas distintas em uma só. Nas prefeituras, formulários em branco para serem preenchidos por funcionários públicos.



"Tinha até bilhetinhos endereçados a pessoas da licitação indicando vencedores", acrescenta o delegado que conversou com o repórter Normando Sóracles do Site Miséria adiantando que os envolvidos poderão ser presos no curso das investigações se tentarem atrapalhar ou coagir testemunhas. (OUÇAM)

Já o representante da CGU, Elíbio Estrela, chamou a atenção para as fraudes em licitações, o conluio, o direcionamento de processos, pagamento por serviços não executados e os desvios de programas do governo. A princípio, são estimados em R$ 5 milhões os desvios de recursos públicos. Ele explicou que toda a documentação apreendida vai ser analisada para complementar o relatório que deve estar pronto em 15 dias podendo outros municípios serem investigados. (OUÇAM)