O menos ruim e o voto nulo

Os 31% de eleitores de Fortaleza que dizem ter escolhido o candidato a prefeito por falta de opção melhor representam percentual até baixo. A própria lógica do segundo turno induz a esse tipo de posição. A ideia é que o eleitor vote em quem considera melhor no primeiro turno. E, no segundo turno, faz a opção entre os dois que restaram. No limite, a escolha é mesmo por exclusão. Na votação de 7 de outubro, mais da metade de quem escolheu um dos candidatos se posicionou tanto contra Elmano de Freitas quanto contra Roberto Cláudio – sem falar de nulos, brancos e dos que nem compareceram. Isso é fator extra para a escolha pouco empolgada. Sem falar que os dois concorrentes que restam eram desconhecidos para dois em cada três eleitores no começo da campanha. A pouca intimidade com os personagens talvez seja a melhor explicação para a falta de entusiasmo pelas alternativas dentre as quais o fortalezense terá de escolher o prefeito. Também natural no segundo turno, votos nulos, brancos e abstenções devem ter crescimento considerável. Com menos opções – e com a particularidade inédita no Ceará de serem ambas atreladas a estruturas administrativas – é esperada a maior rejeição. E, coisa que não se viu em outros pleitos, com personagens destacados da última campanha fazendo apologia pelo voto nulo. O não-voto é absolutamente legítimo. Mas é importante esclarecer: ele não anula eleição coisa nenhuma. Seu efeito é, no máximo, político. E aí, ainda que o percentual de eleitores protestando seja recorde, a repercussão irá durar no máximo um ou dois dias. O que irá prevalecer pelos quatro anos seguintes será o prefeito que for eleito à revelia desses votos. Ainda que seja válido como manifestação, é fundamental o eleitor entender que anular significa se abster da prerrogativa de decidir. Então, se achar que é indiferente optar por Elmano de Freitas e Roberto Cláudio, tudo bem não votar em nenhum deles. Embora tal ponto de vista seja questionável. Com seus erros, falhas, idiossincrasias e muitas inegáveis afinidades, os dois concorrentes representam projetos com destacadas diferenças políticas e administrativas. Isso já era nítido quanto estavam alinhados. Então, se perceber que não dá no mesmo optar por um ou outro, o melhor que o eleitor faz é, sim, votar no menos ruim. É melhor que ter o pior deles como prefeito. CAMPANHA NA HORA DO EXPEDIENTE A provocação do Ministério Público sobre a participação de Luizianne Lins (PT) em campanha no horário de expediente serve para abrir interessante discussão. A coluna já defendeu que, se iria dedicar parte do expediente à busca por votos para seu candidato, seria melhor mesmo que a prefeita tivesse se licenciado sem remuneração, como fez Cid Gomes. Porém, vale ponderar que Roberto Cláudio (PSB), deputado e presidente da Assembleia Legislativa, também está em plena campanha em tempo quase integral. E ele optou por não se licenciar. Também talvez fosse o ideal que o tivesse feito, embora seja necessário levar em conta que o próprio é candidato. Mas também governador, em 2010, largou os afazeres para participar de carreata com Dilma Rousseff (PT), na mesma Praça do Ferreira, na tarde de 26 de outubro. Cid fora candidato, mas já estava reeleito àquela altura. De modo que essas fronteiras entre o exercício do cargo e o engajamento na campanha nunca ficaram delimitadas com muita clareza. O que é péssimo para as instituições políticas. TRISTE MODELO VITORIOSO Não haveria desfecho mais adequado para uma campanha na qual as coligações se notabilizaram pelo desrespeito às leis que regulam a propaganda e, sobretudo, às regras de boa convivência urbana. Roberto Cláudio (PSB) encerra o segundo turno com uma grande carreata. Elmano de Freitas (PT) finaliza a campanha com duas pequenas carreatas. É de se questionar como os marqueteiros chegaram à conclusão de que é estratégia eficiente para atrair novos eleitores essa forma de manifestação politicamente incorreta, poluente, que atrapalha o trânsito, propaga a poluição sonora e tumultua o trajeto percorrido. No máximo, é eficiente como demonstração de força – e arrogância – para quem mora e trabalha ao longo do percurso e acompanha aquele desfile como se fosse apresentação circense. Para o motorista desavisado que se vê preso no meio do itinerário, não passa de enorme aporrinhação. Mas elas são a perfeita síntese de uma campanha marcada pela poluição sonora, visual, pela sujeira e a bagunça urbana de toda ordem. Esses métodos foram premiados pelo voto, com a ida ao segundo turno dos campeões de infrações. Resta torcer para que, daqui a dois anos, a Justiça Eleitoral se mostre mais rigorosa, com regras e punições mais duras. Que os candidatos se mostrem mais civilizados, cumpridores das leis e respeitem o sossego e a tranquilidade da população. E, sobretudo, que os eleitores punam com rigor aqueles que se candidatam ao cargo responsável por zelar pela lei, mas são os primeiros a descumpri-la.